Ah o romance !

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Aquele que transforma o mundo monocromático em colorido, que nos faz rir à toa, que nos faz ver flores no mundo e nas pessoas , pássaros na vida e borboletas no estômago…

Sim, o romance que nos faz ver beleza no mundo e tolerar os defeitos das pessoas, o romance que nos faz ter fé e que nos faz amar…

…E quando a gente está apaixonado,todo defeito é tolerável. Quando o amor passa, nenhuma qualidade é boa o bastante,

Mas às vezes a paixão acaba mas o romance continua, a  pessoa começa a enxergar os defeitos do outro,e daquela pessoa que ela idealizou e colocou num pedestal, surge um ser humano real, com defeitos e manias irritantes, vão- se os passarinhos e as músicas irritantes dos contos de fadas, acaba-se o paraíso e os sonhos , e o pesadelo começa… Pro ser amado, evidentemente, não pro romântico, porque o romântico nunca perde a fé, ele sempre acha que custe o que custar, as coisas sempre serão exatamente como ele deseja que sejam, e isso não haveria de ser ruim, se este romântico não tivesse lidando com pessoas e com sentimentos, sim sentimentos dos outros, os românticos passam tanto tempo olhando pra si mesmos, pro que desejam e precisam, que simplesmente esquecem dos universos ao redor deles.mamulengo

As pessoas românticas são um saco, elas idealizam uma realidade na cabeça delas, e tudo que foge daquilo as frustra, e dificilmente sabem lidar bem com a frustração, sempre acham que a outra pessoa tem que corresponder às suas expectativas e anseios e seguem isso a ferro e fogo, e é aí que as coisas complicam, pois o romântico começa a cobrar o parceiro por mudanças que nunca ocorreram, dizem eles ” Você mudou, você não era assim”, mas a realidade é que o outro não mudou, o que mudou foi o referencial do romântico sobre seu “objeto” de adoração, o romântico estava tão ocupado numa realidade enfeitada, colorida, com pássaros cantando e flores por toda parte, que simplesmente esqueceram de enxergar o mundo real, esqueceram de olhar pro outro com seus defeitos e qualidades e amá-los por isso.

O problema é que quanto mais se muda por um romântico, mais o nível de exigências aumenta, e maiores são os caprichos e vaidades, primeiro diz respeito  à personalidade, em breve diz respeito a comportamentos e quando menos se espera, a vítima de um romântico, se transforma em uma pessoa totalmente diferente do que era antes de conhecê-lo, perde-se o bom senso sobre a exigência e nenhum dos dois se satisfaz, porque a pessoa vira vítima da insatisfação do outro, e essa insatisfação nem sempre diz respeito a ela, mas sim do romântico com ele mesmo.

O romântico costuma ser tão arrogante e egocêntrico, que quando percebe que o outro tem um defeito, não se concentra em lidar com isso, em aceitar isso, se concentra em criticar, infernizar,   atacar o ser “amado” com cobranças e exigências, fazendo chantagem e dizendo que ” se a outra pessoa corresponde ao amor dela, precisa mudar algumas coisas”, mas em momento algum olha pra si, pro próprio defeito, e tem a sensibilidade de ver que o outro não tem nenhuma obrigação de mudar em si, aquilo que é da própria essência, aquilo que não a incomoda, em nome do capricho de quem está do lado dela.

O Romântico não muda uma vírgula de suas vaidades e caprichos, mas ele acha que a outra pessoa tem que corresponder exatamente à projeção que ele criou.

Quando o outro se cansa e profere a velha frase ” se está incomodado, que se mude”,images (12) o romântico acusa o parceiro sem dó, de tratar os outros como mera mercadoria, que é substituída assim que dá defeito, por uma melhor e mais segura, mas não percebe que ele próprio trata a pessoa que diz amar, como se fosse um objeto,um fantoche montado pra ser e fazer exatamente aquilo que ele deseja.

O romântico enaltece o amor de sacrifícios, mas não consegue enxergar é que o único sacrifício, quem faz é quem está ao lado dele, aturando vez após vez, uma série de exigências de pessoa mimada, que não sabe lidar com as diferenças, que diz amar, mas transforma a vida do outro numa verdadeira luta em que é necessário bater o pé diariamente pra continuar sendo exatamente quem se é, sem a intervenção do outro.

A  realidade é que não devemos pedir dos outros prova de amor de nada, cabe a cada um, definir até onde vale a pena mudar em si, o que incomoda o outro, e a decisão de ser submisso e acatar certas críticas, é individual. Sim, mudar em nome dos caprichos do outro é uma bela prova de amor, e o mesmo não consigo dizer de quem diz que ama, que quer o melhor do outro, mas transforma o cotidiano do casal num inferno, em busca de mudanças muitas vezes impraticáveis.

Num mundo de pessoas substituíveis e descartáveis, embora mais chocante, me parece muito mais sincero e justo quem não consegue lidar um defeito alheio,partir pra um próximo relacionamento, do que aquele que diz amar, mas passa a vida toda tentando configurar aquele que esta ao seu lado.

 

2 respostas para “Pro inferno com seu romantismo!”.

  1. impressionante… vi um retrato do meu último relacionamento nesse texto. embora ainda pense que ela padecia dessa tríade (na verdade um acarreta o outro) insegurança-ansiedade-controle, o romantismo aqui descrito, e piegas, convenhamos, acaba inserindo uma nova ótica. quisera eu ter lido isso anos atrás. teria me ajudado um bom bocado.

    1. Poxa… Sempre é tempo de aprendizado! Fica pra que o próximo não padeça do mesmo mal 🙂
      Beijos!!!

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